segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

"Memórias ancestrais trazem as técnicas e as maneiras de o homem se relacionar com a natureza, com as matérias-primas, com as descobertas de formas dos volumes, das cores, principalmente, com os usos e funções sociais de cada objeto. O objeto criativo, fruto da arte de inventar, é também um registro visual da arte de traduzir e de marcar lugar de autoria, reconhecimento de território, espaço possível para vivenciar sabedorias acumuladas. Assim a arte popular dá voz e sentido ao testemunho da pessoa, aproxima o sonho que é a liberdade de criar, revelando as mais profundas interações entre a técnica e a capacidade de transgredir, inovar, construir estéticas" Raul Lody Citação da pág.13, extraída do catálogo "Pernambuco feito à mão", produzido pelo Sebrae, com referências de 50 artistas de todo o estado de Pernambuco que trabalham com cerâmica, esculturas, entalhe, traçados e cestarias, tecelagem, rendas, bordados e xilogravura.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012


Mestre Vitalino




Vitalino Pereira dos Santos (Ribeira dos Campos, Caruaru PE 1909 - Alto do Moura, Caruaru 1963). Ceramista popular e músico. Filho de lavradores, ainda criança começa a modelar pequenos animais com as sobras do barro usado por sua mãe na produção de utensílios domésticos, para serem vendidos na feira de Caruaru. Ele cria, na década de 1920, a banda Zabumba Vitalino, da qual é o tocador de pífano principal. Muda-se para o povoado Alto do Moura, para ficar mais próximo ao centro de Caruaru.


A artista e pesquisadora de manifestações populares brasileiras Larissa Isidoro Serradela embarca numa viagem ao Nordeste do Brasil afim de coletar registros preciosos e relatar aqui suas vivências e experiências neste caderno de bordo, o Blog.

Em sua primeira parada visita o Casa Museu Mestre Vitalino, localizada em Caruaru, (no Alto do Moura, na r. Mestre Vitalino, 281)a mesma foi tombada em 1971. Hoje é cuidada por Sr. Severino, filho do mestre que realiza o trabalho com o barro juntamente com seus 13 filhos e netos. Nela é possível entrar em contato com a casa, móveis, objetos sagrados, de decoração, utensílios domésticos que fizeram parte da vida de Mestre Vitalino e também é possível obter peças produzidas pela família Vitalino que são comercializadas.





Mestre Vitalino teve dezoito filhos com D. Joana Maria da Conceição “Joaninha”,  dos quais apenas 5 viveram a vida adulta, ele  falece em 1963 acometido por varíola. Sua vida e obra representa a pura expressão popular do cotidiano da vida de um nordestino, como ceramista permanece desconhecido do grande público até 1947, quando o desenhista e educador Augusto Rodrigues organiza no Rio de Janeiro a  1ª Exposição de Cerâmica Pernambucana, com diversas obras suas. Segue-se uma série de eventos que contribuem para torná-lo conhecido nacionalmente e são publicadas diversas reportagens sobre o artista, como a editada pelo Jornal de Letras em 1953, com textos de José Condé, e na Revista Esso, em 1959.


Mestre Vitalino
Pintando o Boi

Em seu trabalho como ceramista gerou uma tradição familiar onde seus filhos logo cedo o ajudavam na coleta do barro, da madeira para a queima e na produção de peças para a venda na feira Caruaru. Sr. Severino filho do mestre disse a Larissa que tudo começou por meio da brincadeira de produzir um "Boizinho".


Sr. Severino Vitalino filho 

No livro "Vitalino Menino" de Walter Ramos; ilustração de João Lin editado no Recife pela Fundação Joaquim Nabuco em 2010, Larissa extrai um trecho que ilustra a visão do mestre quando ele disse: " Tudo o que fiz tirei da terra. O melhor de tudo aprendi na liberdade de brincar, correr, rodar pião no chão. Toda criança nasce com os mistérios da criação". P20/22.









Mestre Vitalino usava no processo de queima das peças, um forno circular, sem chaminé feito com tijolos e barro. É possível ver na Casa Museu o forno  e como ele organizava as peças. No espaço de cima ele colocava as peças e no de baixo ele inseria a madeira para alimentação do fogo, a queima durava seis horas.

Sr. Severino sugere madeiras para a realização da queima das peças entre elas: Amburana, Sacatinga, Catingueira, Gameleira, Baraúna e Angico.

A região do Alto do Moura em Caruaru (PE), se destaca pela tradição do trabalho com o barro. Mestre Vitalino possuiu alguns discípulos como: Zé Caboclo, Manuel Eudócio, Elias Francisco dos Santos, Zé Rodrigues, Manoel Galdino e Luiz Antonio da Silva, que construíram nesta região, um ambiente camarada composto por trocas de conhecimentos e produções coletivas. Mas a vida destes artistas foi muito difícil em função da pouca remuneração obtida da venda das peças que eram muito baratas e vendidas a um preço injusto que mal dava para o sustento, com condições mínimas de conforto. 





Mestre Vitalino
Violeiros , déc. 1950
cerâmica policromada
Reprodução fotográfica autoria desconhecida



Fotografias expostas na Casa Museu Mestre Vitalino


Imagens de Padre Cícero



Larissa na coleta de informações sobre
Mestre Vitalino Vida e Obra