Vivência com Zé Lopes
Foi realizada, no final de Janeiro de 2012, uma vivência
com Zé Lopes, bonequeiro(que faz bonecos) e mamulengueiro (que manipula
bonecos) de Glória do Goitá, Zona da Mata de Pernambuco. Nesta vivencia foram
11 dias de convivência com a família composta por Zé Lopes (61 anos), Neide (35
anos e esposa de Zé Lopes), Cida (22 anos e filha mais velha), Larissa (15 anos
filha do meio) e Julinha (2 anos filha mais nova).
Chapéu de Zé Lopes
O universo do Mamulengo esta presente na relação familiar uma vez que toda a família participa de algum processo do trabalho com os bonecos. Zé Lopes produz os bonecos com madeira Mulungu (leve e macia), usada também na produção de cercas nas fazendas da região, “por isso nunca falta”.
Neide trabalha com o marido a 20 anos e colabora no
acabamento das peças e no auxilio a Zé Lopes nas apresentações de Mamulengo.
Segundo seu Zé ela é a “inspeção de qualidade” dos bonecos, dá o acabamento
melhor do que ele.
Cida, a filha mais velha colabora com a pintura dos bonecos,
pinta camisetas com temas do Mamulengo e também toca Zabumba "quando o
Zabumbeiro falta..."
Cida e Neide
No processo de produção Zé Lopes cria os bonecos e também elabora a mecânica dos mesmos e de instalações com movimento, como a “Casa de Farinha” que foi produzida para uma produtora de Recife para ser enviar para uma exposição na Holanda. Neide, Cida e outros integrantes da família como Maria, Graça e Tarcisio realizam o acabamento das peças que compreende em lixar, passar massa e pintar. Depois de pronto os bonecos são comercializados ou usados nas apresentações.
Peças em acabamento
Neide pinta prensa da “Casa de Farinha"
Neide e Zé Lopes
Nas apresentações do “Mamulengo Teatro do Riso”, seu Zé é a
figura central do espetáculo, fica dentro da barraca manipula os bonecos, conta
as histórias, canta as músicas, dialoga com o público e com “Catirina”
personagem que media a relação dos bonecos com o público e se intromete nas
histórias. É feita por Larissa que disse
que gosta de estar na frente do público.
Fora da barraca além de Catirina que toca Triangulo e canta,
também ficam o Sanfoneiro “Neco” e o Zabumbeiro “Luciano ou Cida”. Seu Zé possui todos
os instrumentos usados nas apresentações e outros como Pandeiro, Ganzá, Bateria
e também mesa e caixas de som. Os ensaios com a banda são realizados
semanalmente . Foram acompanhados dois ensaios dos quais Larissa tocou
Pandeiro e Ganzá com o grupo.
Apresentação em
Limoeiro, Janeiro 2012. Homem curioso se aproxima da barraca.
Apresentação em
Limoeiro, Janeiro 2012. Larissa incorpora “Catirina” e brinca com os bonecos.
Julinha, a filha mais nova, possui o privilégio de viver no mundo encantado do Mamulengo, mas vive um dilema pois tem que lutar contra a vontade de brincar com as peças produzidas, muitas vezes encomendadas. Seu Zé faz questão que ela participe dos ensaios da banda onde ela brinca de cantar, tocar Pandeiro, Bateria e Zabumba. Julinha chora e ri ao mesmo tempo, fala que ama seus familiares e quer servir sua própria comida. Quando ela acorda desliga o ventilador e chama por Larissa, que cuida muito bem da irmã.
Julinha
Larissa Isidoro Serradela e Julinha
Segundo
Zé Lopes o Mamulengo é a “mão molenga” que manipula os bonecos.
Ele se apropria de personagens e histórias que tradicionalmente são
contadas, como por exemplo os bonecos : Simão, Janeiro, Quitéria, dentre
outros. Também cria novas histórias e músicas que são inspiradas em seu cotidiano.
“Simão” empregado de confiança do Coronel
“Quitéria”
Zé Lopes com
“Janeiro” “Janeiro vai Janeiro vem feliz daquele que Deus quer bem”.
Canção
deste personagem.
Zé Lopes conta que quando criança os
mamulengueiros não permitiam que as crianças e pessoas entrassem dentro das
barracas e tão pouco sabiam a história de origem desta manifestação e material
utilizado para a produção dos bonecos. Ele disse que aprendeu sozinho, indo
atrás dos bonequeiros, pesquisando materiais e decorando as histórias e
músicas. Também ser mamulengueiro era sinônimo de ser “malandro” consumir
álcool, por isso sua mãe não queria
apoiá-lo. A mesma vendia bolo de mandioca para completar a renda familiar uma vez que sustentou três
filhos sozinha porque perdeu o marido quando Zé Lopes completou 4 anos.
Nesta vivência além de aprender e fazer dois bonecos indígenas, também foi
possível colaborar na produção da instalação da “Casa de Farinha” e produzir um
vídeo sobre Zé Lopes e seu trabalho .
Larissa Isidoro Serradela com os bonecos
produzidos por ela, Zé Lopes e Neide apresentam bonecos e “Casa de Farinha”.
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